domingo, 31 de agosto de 2014

A importância do exercício na infância

Hoje trago-vos mais um miminho da Revista mensal n.º 63 "O Guia para Pais e Educadores" (Maio de 2013). Nas págs. 19 e 20 encontrei alguma informação bastante interessante e de indispensável leitura. O texto que vos apresento a seguir sobre o exercício físico é da autoria de Nuno Carmona.

Portugal é um dos países com mais casos de obesidade infantil e não podemos ignorar os motivos: os hábitos alimentares têm vindo a piorar e poucas são as crianças que praticam exercício físico com regularidade. Siga o nosso conselho: está na altura de mudar!

Nos últimos anos, temos assistido a um aumento progressivo de casos de obesidade, não só em Portugal, como um pouco por todo o mundo. A mudança de hábitos alimentares associada a vidas sedentárias em que a prática de exercício físico é quase nula, têm contribuído para o aumento de casos de obesidade, mas também de doenças associadas àquela que já é apelidada de epidemia do séc. XXI.
Embora Portugal tenha tido sempre uma alimentação assente nos princípios da dieta mediterrânica, a verdade é que atualmente não foge à regra e vê o número de pessoas com excesso de peso aumentar dramaticamente, com a particularidade de ser já o país da União Europeia (UE) onde se registam mais casos de obesidade em idade escolar. De acordo com estudos levados a cabo por especialistas europeus, a obesidade afeta atualmente 22 milhões de crianças, mas no futuro vai atingir cerca de 155 milhões, com um aumento na ordem dos 400 mil novos casos todos os anos.

Portugueses sedentários

Segundo os últimos dados, Portugal é o país da UE que apresenta a menor percentagem de praticantes de desporto e, simultaneamente, a maior taxa de obesidade em crianças e em jovens em idade escolar.
Para a maioria dos jovens,a aula de educação física é a única forma que têm de realizar atividade física. Contudo, as horas consideradas no curriculum são manifestamente insuficientes para colmatar as suas necessidades físicas. Aos jovens que sofrem de obesidade, não basta a prática de uma atividade física pois, nestes casos específicos, é fundamental estender o acompanhamento à nutrição.
Se, por um lado, é necessário que aumente a prática de exercício físico e, dessa forma, aumente o consumo de calorias, por outro lado tem de ter um acompanhamento profissional que lhe permita alterar os hábitos alimentares, eliminando os erros cometidos e acrescentando alimentos fundamentais a uma dieta saudável.
O recente relatório Healthy People 2010 (2001), identificou o tempo passado a ver televisão como um dos principais obstáculos para o aumento da prática de exercício físico desde a infância e incentiva todos os encarregados de educação a restringir o visionamento de televisão a um máximo de duas horas por dia.
Mas é importante ter em conta que nem todas as crianças que têm excesso de peso na infância vão transformar-se em adultos obesos. Segundo Epstein et al. (1987), nem todas as crianças obesas se tornam jovens obesos e, mais tarde, adultos obesos. No entanto, a prevalência da obesidade aumenta com a idade entre ambos os sexos, verificando-se uma grande probabilidade de persistir ao longo da vida quando começa a manifestar-se na adolescência.
Face à realidade do número de obesos estar constantemente a aumentar, não só nos adultos, mas também nas crianças e jovens (NHANES, 2001), diversas instituições, nomeadamente o Colégio Americano de Medicina Desportiva (ACSM, 2000), referenciam a importância de desenvolvimento de programas de atividade física e aptidão física junto das crianças e adolescentes, no sentido de desenvolver uma cultura de estilos de saudáveis que se mantenham na vida adulta, com o objetivo máximo da melhoria do estado de saúde e bem-estar das populações.
Contudo Dishmann (1993) referiu num dos seus estudos que o melhor preditor da prática de atividade física nos adultos, é sem dúvida os hábitos incutidos na adolescência e sugeriu também que se a atividade física fizer parte da norma do grupo de pares, os adolescentes tenderão a ser mais ativos fisicamente.

A metodologia do treino

O único princípio a seguir no que diz respeito à precocidade da integração da criança na atividade desportiva organizada passa pelo seu envolvimento no desporto, mas para isso acontecer é fundamental que só seja iniciada quando ela estiver num estado de "preparação" ótimo para a execução das habilidades específicas da modalidade escolhida. Ou seja, nem todas as atividades são aconselháveis para crianças e é fundamental o aconselhamento profissional para saber se a criança em causa já está devidamente desenvolvida para começar a praticar aquela atividade.
Grande parte das pessoas não reconhece o exercício físico como um valor intrínseco ao bem-estar físico, mental e social. Por isso, é normal que os encarregados de educação tenham dificuldade em perceber que é fundamental para as crianças.
Uma das grandes vantagens que se obtém com a prática de exercício físico é a de ajudar a melhorar o crescimento psicológico e o desenvolvimento da personalidade das crianças e dos adolescentes, atuando mesmo no sentido de modelar comportamentos, dando-lhes ferramentas importantes para lidarem com a agressividade, a gestão da ansiedade, aumentar a autoconfiança, fortalecer a concentração, a aprendizagem de técnicas de relaxamento e as estratégias cognitivas necessárias ao desenvolvimento de habilidades que podem ser aplicadas no meio desportivo.
Vários estudos demonstraram que as crianças motivadas e que se envolvem no desporto, praticando regularmente uma modalidade desportiva, melhoram a competência e o desempenho a vários níveis, nomeadamente no controlo dos níveis de ansiedade gerados pela competição desportiva, podendo influenciar positivamente o rendimento escolar e conduzindo à obtenção de sucesso escolar e desportivo.
É fundamental incentivar sistematicamente crianças e adolescentes a praticarem desporto, tendo sempre como normas orientadoras, a realização de uma abordagem sistemática, baseada e fundamentada em conhecimentos científicos, e realizada por especialistas que ficam encarregues de assegurar a orientação cognitivo-comportamental e psicofisiológica do exercício.

Conheça todos os benefícios do exercício físico na infância:
  • Permite e assegura um desenvolvimento normal e correto, adaptado às possibilidades de rendimento, segundo a idade;
  • Previne problemas ortopédicos provocados por posturas incorretas ou debilidade de alguns grupos musculares;
  • Prepara para o máximo rendimento a longo prazo, sem limitar o desenvolvimento em cada etapa;
  • Promove a aprendizagem experimental - as crianças criam os seus próprios exercícios e jogos;
  • Encoraja atividades que exijam concentração e controlo da atenção;
  • Dá ênfase em atitudes éticas e de fair-play;
  • Proporciona atividades mistas com participação de elementos de ambos os sexos;
  • Funciona como reforço positivo para os comportamentos de participação ativa, autodisciplina e evolução técnica.
Sugestões

É muito fácil incentivar as crianças a desenvolver bons hábitos de atividade física numa idade jovem. Siga as nossas sugestões:
  • Limite a televisão, os filmes, os vídeos e os jogos de computador a menos de duas horas por dia. Preencha o restante tempo de lazer com atividade física;
  • Planeie as saídas e as férias de família de forma a envolverem atividades enérgicas, como passear a pé, caminhar, andar de bicicleta, esquiar e nadar;
  • Observe e participe nas atividades do agrado das suas crianças e tente saber onde é que podem praticá-las. Algumas crianças são bem sucedidas em desportos de equipa, mas outras preferem atividades individuais;
  • Se for seguro caminharem ou andarem de bicicleta, façam-no em família. Utilizem as escadas em vez dos elevadores e façam jogos para ser mais estimulante;
  • Certifique-se que as crianças têm aulas de educação física frequentes, divertidas e de boa qualidade. No infantário, certifique-se que as crianças têm, no mínimo, 20 minutos de exercício por dia;
  • Compre presentes orientados para a prática desportiva, como uma corda de saltar, um minitrampolim, esquis, skates, raqueta de ténis ou pondere mesmo a inscrição numa atividade desportiva onde várias atividades foram idealizadas para responder às necessidades e limitações dos mais pequenos;
  • Aproveite as oportunidades existentes no local onde vive, desde jogos de futebol a corridas divertidas.

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